domingo, 20 de setembro de 2009

Os desenhos das crianças: análise e interpretação


Autora: Georgette Silene Aparecida de SouzaOficina Caçapava - SP


Os desenhos das crianças: análise e interpretação


O relato que vou apresentar é sobre o trabalho realizado junto a educadores numa oficina livre de artes visuais sobre a observação e análise de desenhos infantis. Com a utilização de textos e artigos de renomados educadores da área a proposta era a de observar os desenhos e através de debates e discussões em grupo, seguindo a orientação dos textos, procurar entender mensagens e códigos implícitos nos desenhos infantis.


Sem perceber, no momento de desenhar a criança transporta para o papel seu estado anímico, em todos os detalhes. Refletem seu mundo físico e psíquico, suas relações mais fortes, desejadas e indesejadas, fatos do passado e do presente e podem nos apontar direções futuras. É por isso que os desenhos das crianças permitem-nos incrementar consideravelmente nossos dados sobre seu temperamento, caráter, personalidade e necessidades.


Os desenhos ajudam-nos também a descobrir (e por que não re-descobrir?) e reconhecer as diferentes etapas pelas quais a criança está atravessando, os seus problemas e dificuldades, assim como seus pontos fortes. Como introdução ao trabalho deve-se explicar os principais tópicos das artes visuais relacionadas com o desenho: o ponto, o traço, a linha, a textura, a forma, as cores, entre outros.


Analisar um desenho não é o mesmo que interpreta-lo, pois existe uma diferença real e concreta em ambos os conceitos:



  • A análise responde a um enfoque técnico e racional.


  • A interpretação dos desenhos é o resultado ou a síntese da análise.

Assim que esses pontos foram expostos aos participantes os exercícios da primeira parte tinham como objetivo trabalhar a questão da análise. Havia sido pedido aos professores que trouxessem desenhos produzidos por seus alunos e que passaram a ser observados primeiramente sobre um enfoque mais técnico, seguindo os dados fornecidos anteriormente.


Nessa análise é importante que o educador faça um reconhecimento exaustivo dos elementos mais e menos presentes nos desenhos de seus alunos, compare-os com outros desenhos da mesma criança em produções anteriores para verificar se houve ou não uma evolução de linguagem e reconheça símbolos e sinais repetitivos. Todos os detalhes importam: a utilização das cores preferidas pelas crianças, o posicionamento desses desenhos dentro do perímetro da folha, sua divisão nos quatro planos, quais as personagens mais freqüentes em seus desenhos e a importância dada a cada um deles. Uma criança tímida e retraída costuma utilizar menos espaço para desenhar em uma folha, uma criança mais "agitada" tende a não observar os limites do papel e a não concluir o que inicia, forçando demais o lápis ou utilizando mais as cores quentes do espectro. Tudo pode ser utilizado e trabalhado dentro de sala de aula. Pedir aos alunos que desenhem escolhendo apenas uma cor ou o lado direito ou esquerdo da folha é um bom início de análise de um desenho.


É um trabalho rigoroso e difícil, pois nem sempre estamos abertos a conhecer ou respeitar esse universo, pensamos no desenho como uma atividade “livre” e que não tem a mesma importância da escrita. Entretanto, a escrita pictórica é a primeira forma de comunicação do ser humano com o mundo. Foi assim com nossos antepassados e suas pinturas e desenhos rupestres, foram assim com antigas civilizações que fizeram dos desenhos uma forma de comunicação que, com a evolução, adquiriu sons e fonemas, tornando-se o que hoje conhecemos como a escrita e a oralidade desses alfabetos.


Ainda hoje nosso primeiro contato com o mundo da escrita se dá através dos traços ingênuos e desprentesiosos que realizamos desajeitadamente em folhas de papel, quando um lápis é colocado em nossa mão, e percebemos que rola-lo por essa superfície provoca algo: uma apropriação de nossas idéias, uma maneira de expressa-las do nosso modo e a compreensão dela por parte de “outros” que estão ao nosso redor. É nesse momento que o desenho deixa de ser uma mera distração para tornar-se um poderoso meio de comunicação e interação entre crianças e adultos, educandos e educadores, pais e filhos.


Após a fase exaustiva de análise, que pode durar pouco ou muito tempo dependendo do público alvo, o educador terá em mãos materiais suficientes para realizar as primeiras interpretações dos desenhos de seus alunos. Primeiras porque durante a infância a criança cresce, seus modelos mudam, sua convivência se altera, sua consciência se expande, a visão de mundo se amplia e tudo isso se refletirá naquilo que ela representar. O que a princípio pode ser uma liberação espontânea de idéias irá se revelar como algo prazeroso ampliando os potenciais artísticos e de aprendizagem nas artes visuais. Para ilustrar melhor esse é o momento do trabalho em que os educadores são estimulados a produzirem desenhos. Após essa produção os desenhos são trocados entre os grupos e todos fazem a síntese dos elementos presentes e discutem qual as fases pelas quais os participantes estão passando em relação ao seu trabalho. Vale lembrar que o desenho adulto é bem diferente do da criança e que nesse caso essa parte do exercìcio é ilustrativo para que o participante compreenda como se dá o processo e incremente-o com seus próprios saberes.


Por esse motivo é importante que o educador tenha sempre várias produções da mesma criança, que as compare, que ofereça materiais diferentes para novas experiências que estimulem o desejo da criança em expor as idéias que estão na cabeça. Uma folha de formato diferente, um lápis que tem uma cor nova, uma história contada, tudo isso pode gerar o insight que vai liberar a criança em sua produção, e com isso gerarem mais dados analíticos para o educador.


Para os educadores o momento do “desenho livre”, tão criticado como sendo uma desculpa para não fazer nada, deve ser aproveitado como um momento de pesquisa e compreensão. O educador deve saber, através de sua prática e formação, quando o desenho livre é uma arma a seu favor e quando ele deve interferir com o desenho mais direcionado, no sentido de obter o maior número de dados possível de seu público alvo e também de incrementar a aprendizagem dessa criança no campo das artes visuais.


Quando se pensa em educação, principalmente a educação no Brasil, com todos os problemas que ela enfrenta, os educadores devem aproveitar todo o conhecimento adquirido para ampliar sua prática de forma positiva. Para isso, entretanto é necessário o compromisso de todos os envolvidos no processo educativo: o compromisso do educador em ensinar, o compromisso do aluno em aprender, o compromisso do poder público em fornecer recursos necessários, o compromisso da sociedade (pais, famílias, entidades, etc.) em acompanhar e apoiar iniciativas que venham a favorecer a educação.


Analisando o desenho de uma criança podemos ver nele suas necessidades, sonhos, problemas, vínculos, seu universo íntimo e periférico. O desenho de uma criança reflete a sociedade. Por que então não analisar e interpretar essa sociedade, no sentido de conhecê-la melhor, para se traçar as estratégias que possam ampliar e melhorar sua condição enquanto grupo de indivíduos que convivem juntos?


Bibliografia de referência:


A imagem no ensino da Arte, Ana Mae Barbosa, editora Perspectiva.


Formas de Pensar o desenho, Edith Derdyk, editora Scipione.


Como Interpretar os Desenhos das Crianças, Nicole Bédard, editora Isis.

About The Author
Bie, that's my name. Im just an ordinary blogger.Ea eam labores imperdiet, apeirian democritum ei nam, doming neglegentur ad vis. Ne malorum ceteros feugait quo, ius ea liber offendit placerat, est habemus aliquyam legendos id. Eam no corpora maluisset definitiones.
Share This

0 comentários:

Postar um comentário

Super Interessante!!!

2leep.com
 

Psicopedagogi@ Educação Copyright © 2009 Fashionzine is Designed by Ipietoon for Bie Blogger Template
In Collaboration With Teen Celebrities